Sempre achei os fortes uns puta duns fracos
Um desabafo preconceituoso sobre a pequenez dos que tudo sabem, tudo podem, tudo conquistam e têm mérito
Tem uma coisa muito interessante que me chama a atenção há muito tempo. Há uns 20 e poucos anos, pra falar a verdade. Essa coisa me intriga muito:
Na minha perspectiva, as pessoas que geralmente são julgadas como fracas ou possuem qualidades classificadas como fracas (na prática): quem chora, diz que não sabe, faz perguntas, percebe que não é "o cara" ou o herói, aceita e expõe algumas fraquezas que possui no presente, permite que outros acessem sua vida, ouve, muda de opinião, perdoa sem vingar, reconhece que mérito individual é praticamente inexistente, ama, se coloca no lugar do outro, permite que algumas coisas aconteçam consigo mesmo para que outros se dêem bem, etc são, na verdade as mais fortes que conheço.
Por outro lado, as pessoas que geralmente são julgadas como fortes ou possuem qualidades que, na prática mesmo, julgamos como fortes: o fodão, o ou a "cara", o fortão que põe medo em todo mundo, a pessoa que tem respostas para tudo, que sabe e conhece tudo, maior especialista, melhor jogador, quem fala mais alto, quem está no topo, quem tem a habilidade de conseguir poder e o usa para mostrar que o poder lhe pertence, etc são aquelas que percebo mais precisarem de ajuda, ou solitárias, ou que vivem com uma necessidade tão íntima e primitiva que nunca é saciada e, talvez, elas nem saibam qual seja.
No meu mundinho, fico pensando: quem possui tamanha maturidade e coragem para dizer na frente de todo mundo que não sabe? Que não merece sozinho aquele reconhecimento? Que expõe suas necessidades mais profundas e essenciais (do tipo: me sinto sozinho, preciso de carinho)? Que parece se conhecer e conhecer a vida com tamanha profundidade a ponto de conseguir se colocar no seu lugar atual? Quem possui tamanha adaptabilidade, resiliência para se sentir bem quando está "por cima" na vida e continuar se sentindo bem consigo mesmo quando está passando pelos momentos mais difíceis e desafiadores?
Precisa de muita força, precisa ser muito incrível!
Precisa de muita força, precisa ser muito incrível!
Ao mesmo tempo, precisa ser muito infantil e medroso para conseguir viver bem apenas quando se está "por cima", quando se é reconhecido, quando se está no poder. Precisa ser muito imaturo para dar "piti" quando se perde status, perde espaço. Precisa ser muito ignorante para não se perceber e não perceber o impacto de si mesmo no mundo e nos outros. Quanto percebo essa pequenez, essa fraqueza, as vezes sinto pena, ou muito ódio ou muita vontade de quebrar o "sistema" e mostrar o que é força de verdade…
Eu enxergo força e fraqueza de um jeito meio que invertido.
Mais ou menos assim:
Mais ou menos assim:
Foi contratado porque foi o melhor executivo do ano passado. Na empresa em que trabalhou até ontem conseguiu reverter os resultados a empresa passou a funcionar como nunca! Na empresa nova, mesmo repetindo o mesmo movimento, não está conseguindo o mesmo sucesso ou os mesmos resultados.
Fraco: faz, com mais vigor e intensidade, a mesmíssima coisa que fez no passado. Culpa o cenário econômico diferente. Culpa a cultura da empresa nova. Se mantém firme, como se tivesse tudo sob controle. Sustenta seu papel de herói. Em pouco tempo sai ou é saído.
Forte: assume que não está funcionando. Assume que ele mesmo precisa se reinventar, aprender a fazer diferente. Não é herói. Pede ajuda. Se mostra vulnerável. Ouve. Constrói junto.
Fraco: faz, com mais vigor e intensidade, a mesmíssima coisa que fez no passado. Culpa o cenário econômico diferente. Culpa a cultura da empresa nova. Se mantém firme, como se tivesse tudo sob controle. Sustenta seu papel de herói. Em pouco tempo sai ou é saído.
Forte: assume que não está funcionando. Assume que ele mesmo precisa se reinventar, aprender a fazer diferente. Não é herói. Pede ajuda. Se mostra vulnerável. Ouve. Constrói junto.
O menino treina arduamente. Pratica todos os dias. Se esforça para ser o melhor. Melhora sua habilidade em cada detalhe. É selecionado para a seleção de futebol da escola. Torna-se o capitão do time. 6 meses depois, o técnico decide: outro menino da seleção está se saindo melhor e será o novo capitão em seu lugar.
Fraco: não concorda. Fica revoltado. Apresenta argumentos irrefutáveis que provam que ele é o melhor. Incita um movimento para provar que o técnico está errado. Angaria discípulos para pedir a saída do técnico ou para "dar uma lição" no novo capitão do time e mostrar quem manda. Se mantém firme. Se volta a ser capitão, tudo bem. Se não volta, pede para mudar de escola.
Forte: abaixa a cabeça. Parabeniza o colega. Lembra o time de que cada um ali também pode ser capitão do time e continuar na seleção se continuar treinando e evoluindo. Quem sabe, chora. Demonstra estar decepcionado consigo mesmo. Até revela sentir ciúmes. Mas, valida o novo capitão. Continua treinando arduamente. Se volta a ser capitão, tudo bem. Se não volta, tudo bem.
Fraco: não concorda. Fica revoltado. Apresenta argumentos irrefutáveis que provam que ele é o melhor. Incita um movimento para provar que o técnico está errado. Angaria discípulos para pedir a saída do técnico ou para "dar uma lição" no novo capitão do time e mostrar quem manda. Se mantém firme. Se volta a ser capitão, tudo bem. Se não volta, pede para mudar de escola.
Forte: abaixa a cabeça. Parabeniza o colega. Lembra o time de que cada um ali também pode ser capitão do time e continuar na seleção se continuar treinando e evoluindo. Quem sabe, chora. Demonstra estar decepcionado consigo mesmo. Até revela sentir ciúmes. Mas, valida o novo capitão. Continua treinando arduamente. Se volta a ser capitão, tudo bem. Se não volta, tudo bem.
A pessoa está lá. Esbelta. Peito estufado. Sorriso no rosto. Bem vestida. Falando com eloquência sobre algo em que é especialista. Uma platéia a assiste. Alguém da platéia levanta a mão e faz uma pergunta. A pessoa não sabe como responder. Na verdade, nunca tinha pensado naquilo.
Fraca: mantém a postura. Fica na dúvida entre fazer uma piada que diminua a pessoa da platéia ou lembrá-la de que essa pergunta está fora do escopo.
Forte: muda a postura. Fica claramente intrigada e até desconcertada. Fica na dúvida entre fazer uma piada consigo mesma para deixar claro o quanto se surpreendeu ou iniciar um diálogo para engrandecer uma pergunta de alto nível.
Fraca: mantém a postura. Fica na dúvida entre fazer uma piada que diminua a pessoa da platéia ou lembrá-la de que essa pergunta está fora do escopo.
Forte: muda a postura. Fica claramente intrigada e até desconcertada. Fica na dúvida entre fazer uma piada consigo mesma para deixar claro o quanto se surpreendeu ou iniciar um diálogo para engrandecer uma pergunta de alto nível.
Agora, quando foi que deixamos a fraqueza dominar o mundo? Quando foi que começamos a julgar os fracos fortes? Quando foi que permitimos investir e exercitar nossas fraquezas de maneira tão evoluída para ocupar os "melhores espaços" da sociedade e, nessa hipnótica jornada, deixamos nossa força definhar?
Tem uma estudiosa bem bacana que fala sobre como a vulnerabilidade é, na verdade, algo muito forte e poderoso. Se tiver tempo, dá uma olhada (apesar de que você já deve ter assistido).
Quando penso que estamos próximos de uma revolução para retomar o espaço do que é realmente forte, o movimento de fraqueza vem com tudo! Mas, talvez esse seja um dos sinais mais importantes de que a força está vindo para ficar, porque a fraqueza nunca gritou tanto ou nunca deu tanto piti!
E, acabei tendo essa intuição agora, enquanto estava escrevendo.
Isso me deu esperança.
Um texto que era um desabafo desesperançoso para lidar com um episódio de fraqueza que presenciei e mexeu comigo, acabou virando uma forma de me alimentar com a sensação de que a revolução está acontecendo.
Isso me deu esperança.
Um texto que era um desabafo desesperançoso para lidar com um episódio de fraqueza que presenciei e mexeu comigo, acabou virando uma forma de me alimentar com a sensação de que a revolução está acontecendo.
E, nessa revolução, o que acho mais importante e significativo para mim é perceber que sou forte e fraco ao mesmo tempo. E, meu desafio é deixar o que é forte prevalecer, em cada pequena situação, em cada oportunidade mínima, em cada encontro com alguém, para que ela se fortaleça ainda mais. E, quando a fraqueza escapar, parar, respirar e voltar a usar o que é verdadeiramente forte.
(como o texto foi um desabafo, não vou reler nem checar se os parágrafos tem nexo ou se a narrativa está boa, vou apenas publicar, vai que alguém entende ou vai que o texto ajude alguém a operar mais no fraco que é forte e menos no forte que é fraco?)
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