O rico vigilante

O desejo de ser rico é bastante comum.
Em geral, ele se origina do egoísmo e da vontade de gozar dos bens do mundo em regime de ócio e saciedade.
Mas há quem o justifique com a idéia de dar conforto e segurança para os seus amigos e parentes.
A respeito desse sonho tão comum, há uma narrativa bem esclarecedora.
Conta-se que um homem honrado animou-se com o propósito de enriquecer para beneficiar sua família.
Aflito por alcançar seus fins, envolveu-se em várias empresas.
Por vinte anos consecutivos, ajuntou moeda sobre moeda, formando o patrimônio de alguns milhões.
Quando se deu por satisfeito, reconheceu que todos os quadros da própria vida haviam se alterado.
O lar, antes simples e alegre, agora tinha uma aparência sombria.
A esposa virou escrava de mil obrigações, só para matar o tempo.
Os filhos cochichavam entre si a respeito da herança que a morte do pai lhes reservaria.
Os vizinhos, acreditando que ele era completamente feliz, cercaram-no de inveja e ironia.
Os negociantes visitavam-no a cada instante, propondo-lhe transações criminosas ou descabidas.
Servidores o bajulavam, com declarado fingimento, quando estavam ao lado dele.
Em razão de tantos distúrbios, foi obrigado a transformar a residência em uma fortaleza.
Sobrava-lhe tempo, agora, para registrar as moléstias do corpo, cada vez mais presentes.
Em poucas semanas de observação, concluiu que a fortuna trancafiada no cofre era motivo de crises sem fim.
A partir daí, passou a libertar suas enormes reservas.
Junto dele, amigos e vizinhos passaram a ter as bênçãos do serviço e da felicidade.
Desde o primeiro sinal dessa mudança, a esposa demonstrou estranheza e revolta.
Os filhos o odiaram e os próprios beneficiados o chamaram de louco.
Todavia, o milionário vigilante passou a ter um lar aberto e alegre novamente.
Essa história simboliza a necessidade do equilíbrio na vida humana, em especial no que diz respeito aos bens materiais.
Toda riqueza que corre, como as águas cristalinas da fonte, é uma bênção viva.
Já a riqueza em inútil descanso num cofre, converte-se em uma espécie de poço venenoso de água podre.
Não há lógica em querer um rio inteiro, quando um simples copo de água pode saciar a sede.
Os bens do mundo são instrumentos e não a finalidade do existir.
Qualquer que seja a posição do homem, ele enfrenta problemas e desafios.
Na busca de bens cada vez maiores, não compensa esquecer a essência do existir.
Família, amigos e a própria dignidade constituem o tesouro mais importante que se pode ter.
Pense nisso.